Quero...
Quero sentir o mundo, como um pêndulo nos meus calcanhares
Quero escalar a gravilha, expelida pelas frestas dos olhos do amplo firmamento
Quero recordar que a complexidade da vida pode ser sumida no nódulo do indicador
Quero parar de a ver sob todos os ângulos, e estagnar, ver prosaísmo, o que todos veem
Quero espreitar pelo gargalo da morte, como quem resfolega, receosamente, pela salvação
Quero vingança, mortandade fria e sarcástica, chacina dolente,
Quero saciar este frémito silencioso por retaliação, e abater todos os que matam
Quero dar forma aos atos mundanos, escondidos no desejo, que envenenam o mundo
Quero vincar a aresta setentrional do planisfério, pegar-lhe pela fímbria, e deixar verter
Quero congelar os corações frios, dar de beber aos que rastejam por supressão
Quero ser o garfo vingador, o tridente cintilante que faz justiça,
Quero espetá-lo sadicamente na carne dos que a comem, bebendo, em alegria, alegrias alheias
Quero enterrar viva a minha consciência, deixá-la apodrecer, e alimentar as flores do jardim que não tenho
Quero abraçar a mão que me pensa, deitar-me de costas para o mundo e ver acácias florirem o céu
Quero abraçar o coração insciente, que ainda não sabe amar-me
Quero prodigalizar a vida, só para ter risos de quem cá está de passagem
Quero afogar os sonhos, e viver um, apenas um, sem pensar, só vendo
Quero ver a vida desenhada nas mãos, como uma escultura que ganhou brilho ao ser abandonada
Quero saber a vida porque a vejo, e não porque a penso,
Quero, selvaticamente, a calmaria cobarde da indiferença, apertada pela visão
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