Passando a vida da mão para o boião

02-10-2015 22:53

Pu-la num boião, encafuada nas velharias da casa

Pu-la ao acaso, sem consultar o reflexo da consciência.

Predispus-me a atirar fogos, a incendiar,

Pelos dedos morreu-me a alma, assim,

Pregando versos ao vento surdo,

Porém, por não ter a vida nos dedos, a voz escapou-me.

Perderam-se-me as histórias,

Passando a vida da mão para o boião.

 

Pensei-a mais do que a vivi

Presenteei obras como um cineasta,

Próprio de um criador de vida alheia

Por isso, errei por falsos caminhos sem me levantar

Porque viver é pular da poltrona e ser-se ator.

 

Pensei-a mais do que a vivi

Presumindo que fingi-la fosse tê-la

Presumindo que, pagando com o coração os anos da solidão,

Provasse a veneração de todas as pessoas,

Pessoas que pela segurança e razão

Perdem a estrela cintilante da vida,

Perdem ao pegar em papel e caneta, e encafuando-a num boião.

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