O mundo acorda comigo, nua em frente ao espelho

04-10-2015 17:40

Gáudio, folia extrema e excessiva,

Ardor vívido e escaldante,

O meu rosto rubicundo encarna ira desvairada, agressiva,

Imola a alma, negando-lhe o fado destoante.

 

Sou vida, sou presente, sou desmesura,

Sou inferno, sou rudeza, sou loucura!

Já encostei a vida no céu, reprimindo-me neste invólucro de sangue e carne

Mas, hoje, liberto-me como se só agora tivesse nascido

 

Grito, gemo, clamo e guincho sem razão aparente

Estou viva, sou dor e sofrimento, e tenho a alma doente

A minha voz dissonante faz nascer saliva indiscreta na vizinhança

Difundem-se boatos e eu passo por bruxa, louca, a plebeia devassa e impura

 

Corto as amarras que me fazem prisioneira, aqui, na minha própria casa

E solto os meus berros estouvados, rasgando pulmões, libertando vida em mim

E sai sangue e som, e as rugas do rosto ganham vida, e pela primeira vez vivo.

O excesso flui-me nas veias com fome de libertação

 

E liberto-me e o mundo acorda comigo, nua em frente ao espelho,

E o mundo molda-se ao meu brado, e todos comentam de quem será a voz

E perguntam quem mora na casa muda, e querem saber quem nunca viram

Porque eu estava morta e, hoje, nasci.

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