O mundo acorda comigo, nua em frente ao espelho
Gáudio, folia extrema e excessiva,
Ardor vívido e escaldante,
O meu rosto rubicundo encarna ira desvairada, agressiva,
Imola a alma, negando-lhe o fado destoante.
Sou vida, sou presente, sou desmesura,
Sou inferno, sou rudeza, sou loucura!
Já encostei a vida no céu, reprimindo-me neste invólucro de sangue e carne
Mas, hoje, liberto-me como se só agora tivesse nascido
Grito, gemo, clamo e guincho sem razão aparente
Estou viva, sou dor e sofrimento, e tenho a alma doente
A minha voz dissonante faz nascer saliva indiscreta na vizinhança
Difundem-se boatos e eu passo por bruxa, louca, a plebeia devassa e impura
Corto as amarras que me fazem prisioneira, aqui, na minha própria casa
E solto os meus berros estouvados, rasgando pulmões, libertando vida em mim
E sai sangue e som, e as rugas do rosto ganham vida, e pela primeira vez vivo.
O excesso flui-me nas veias com fome de libertação
E liberto-me e o mundo acorda comigo, nua em frente ao espelho,
E o mundo molda-se ao meu brado, e todos comentam de quem será a voz
E perguntam quem mora na casa muda, e querem saber quem nunca viram
Porque eu estava morta e, hoje, nasci.
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