Música, dança para mim
Música é calor enregelado, brotado pelas catacumbas da alma
Eu sou aquele que finge tê-la pela falsa calma.
Tudo em mim é floresta, floresta silente, assombrada
Que, em cada frecha, pela densa neblina libertada,
É alheia ao fogoso raio de luz, que se imiscui com timidez
Pela mortandade, que me tenta prostrar em intrepidez.
Trepidez, ousadia!
Quem diria…
A alguém tão fraco, tão frágil, cujo frio tem vindo a sussurrar,
Como o oceano que, sentindo-se perdido, pelos céus obscuros se deixa abraçar.
Sou a quietude mórbida que morre nos braços dos sangues em luz
E penso atravessar o deserto, quando me encontro no meio da multidão
Sou febre rouca, em plena combustão,
E penso arrancar os meus sonhos da sombra, que têm vindo a refugiar-se por baixo de um capuz
Mas não. Nem sou capaz de arrancar a pedra, calçada no sapato da minha rua
Fiz do meu corpo um cárcere, uma prisão nua,
Despida de gente, despida de mim
Vagueio com os olhos pelo curso do rio, sem fim.
E só quando ouço o calor enregelado, chegando das catacumbas da alma,
Vejo falsa vivalma.
Só quando chega a música, me sinto a viver.
Vejo outras mentiras a renascer
Vejo o medo carnal,
Suprimindo falhas da inexistência espiritual.
Sorvo dos tormentos alheios
Sorvo sangue de outros olhos, cheios
De memórias banhadas de miséria, desesperante, e doce,
Sorveria até os males que me pertencem, não fosse
O mundo físico impedir-mo, mas, antes verga-me por castigo
E a música ouve-me, ouve-me como nem eu sei se consigo
Porque música é o sangue que me põe em contacto com o espaço mundano
Porque música é a respiração que me deixa ver, colocando-me a venda, um novo negro pano
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