Música, dança para mim

26-06-2015 01:06

Música é calor enregelado, brotado pelas catacumbas da alma

Eu sou aquele que finge tê-la pela falsa calma.

Tudo em mim é floresta, floresta silente, assombrada

Que, em cada frecha, pela densa neblina libertada,

É alheia ao fogoso raio de luz, que se imiscui com timidez

Pela mortandade, que me tenta prostrar em intrepidez.

Trepidez, ousadia!

Quem diria…

A alguém tão fraco, tão frágil, cujo frio tem vindo a sussurrar,

Como o oceano que, sentindo-se perdido, pelos céus obscuros se deixa abraçar.

Sou a quietude mórbida que morre nos braços dos sangues em luz

E penso atravessar o deserto, quando me encontro no meio da multidão

Sou febre rouca, em plena combustão,

E penso arrancar os meus sonhos da sombra, que têm vindo a refugiar-se por baixo de um capuz

Mas não. Nem sou capaz de arrancar a pedra, calçada no sapato da minha rua

Fiz do meu corpo um cárcere, uma prisão nua,

Despida de gente, despida de mim

Vagueio com os olhos pelo curso do rio, sem fim.

E só quando ouço o calor enregelado, chegando das catacumbas da alma,

Vejo falsa vivalma.

Só quando chega a música, me sinto a viver.

Vejo outras mentiras a renascer

Vejo o medo carnal,

Suprimindo falhas da inexistência espiritual.

Sorvo dos tormentos alheios

Sorvo sangue de outros olhos, cheios

De memórias banhadas de miséria, desesperante, e doce,

Sorveria até os males que me pertencem, não fosse

O mundo físico impedir-mo, mas, antes verga-me por castigo

E a música ouve-me, ouve-me como nem eu sei se consigo

Porque música é o sangue que me põe em contacto com o espaço mundano

Porque música é a respiração que me deixa ver, colocando-me a venda, um novo negro pano

Tópico: Música, dança para mim

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