Ficou a vida por dizer

26-07-2015 21:20

Ficou a vida por dizer 

Quando nasci, pensei ser livre, pensei que o mundo voava no dorso dos pássaros 

E que eu era os pássaros, e que o mundo era uma pena de andorinha, 

Como sonho que se adeja, enrolado em brisa de primavera, imiscuído em carícias coloridas. 

Mas as amarras despontaram-me dos pés, não como pássaros, mas como cobras, ciciando, 

Fui crescendo e as amarras, apetrechadas de tiras de cilício, converteram-se em correntes 

Então, o telhado das mãos do meu pai passou a ser o meu limite, o horizonte dos meus voos. 

Com as pernas assoladas, o tronco tornou-se árvore, uma estaca de escala alheia 

Fui intimidado com folhas verdes na mão e com pratos sem pão 

Os braços recusaram-se a abraçá-los, mas noites friorentas tornaram-se a companhia 

De supetão, os braços abriram-se, dando-lhes acesso… o chão tornou-se o meu limite 

Tornei-me na cobra que só sonha poder andar 

Tornei-me no espinho que só sonha poder acariciar 

Por fim, sem o esperar, voltei atrás no tempo e vi que voei, pisei terras, inalei cheiros de outrem, 

E o meu prato até foi filho dos Orientes, condensando a História em pinceladas de picante 

Mas tudo não passou de um aferrolhar de pálpebras, em que os sonhos foram de baixo pique. 

O mundo não estremeceu, nem derramei terramotos em corações 

Agora, o futuro é o abismo, e tudo o que resta são fés de gente que de gente é gentinha 

As palavras em que tropeço são o esvair de cânticos não cantados, de amores entornados, 

De ambições desditas, de tronos desmentidos, mas, sobretudo, de sonhos despenhados

 

Tópico: Ficou a vida por dizer

Poema

Data: 02-08-2015 | De: Carolina

Hugo, obrigada pelo carinho demonstrado! Desculpa mas sou tímida e não quero partilhar a minha identidade. Cada palavra tua enche-me a alma e o coração!!! Adorava que escrevesse algo com o meu nome... mas não sejas muito ousado ihih

Re:Poema

Data: 04-08-2015 | De: Elizabete Leonora

Cara Carolina, sinto-me muitíssimo satisfeito por poder falar contigo através destes poemas, mas os poemas libertam um olor característico de quem os escreve. E esse olor, esse aroma, é o reflexo de sentimentos, experiências, dores vividas, alegrias esquecidas, embarcações perdidas. E se eu tentasse escrever algo cujo significado não me fosse claro, juntando palavras como se de um puzzle se tratasse, estaria a ludibriar-me.

Talvez com o tempo a timidez adquira habituação :)

Re:Re:Poema

Data: 04-08-2015 | De: Carolina

Hugo,

A minha habituação é vir todos os dias ao teu blog na esperança de encontrar um novo tema de poesia da tua autoria.
Percebo perfeitamente aquilo que me tentaste transmitir e eu própria já estou a tentar criar os meus próprios pensamentos.
Quando tiver algo mais finalizado, venho aqui mostrar-te o resultado da minha poesia.
Beijoca da tua admiradora Carolina.
Tem um bom dia "meu anjo"

Re:Re:Re:Poema

Data: 04-08-2015 | De: Elizabete Leonora

Até ao final da semana, publicarei um poema novo :)

Novamente, o meu muito obrigado, e, relativamente à timidez, relembra-te que a sugestão inicial foi tua :D

Amei o seu poema!

Data: 02-08-2015 | De: Carolina

Hugo, deves ser uma pessoa bastante linda e maravilhosa por dentro! Tenho lido todos os teus poemas e deixam-me sempre cheia de ternura. Gostava de te conhecer pessoalmente, Beijocas Carol!

Re:Amei o seu poema!

Data: 02-08-2015 | De: Elizabete Leonora

Carol, fico-te muito agradecido pelos elogios e opinião. Da mesma forma que me sinto muito contente por os meus poemas te terem vindo a tocar.

Se desejares, podes começar por me adicionar no facebook. Encontras o link em "Sobre mim e Contactos."

:-)

Data: 27-07-2015 | De: Cristina

Amei este, sem dúvida o teu melhor poema, pelos menos dos que já li até hoje. Continua com a veia poética, este está imensamente lindo e profundamente sentimentalista. Como eu tanto gosto na poesia...

Re: :-)

Data: 02-08-2015 | De: Elizabete Leonora

Cristina, grato pelo teu feedback. É ótimo saber que o poema te tocou de forma especial.

Novo comentário