Era o medo o que nos vinha acariciar

09-08-2015 16:58

Era o medo o que nos vinha acariciar

Tínhamos o incipiente nervosismo estancado na garganta da alma,

Espreitando com cautela pela fresta aberta, permeável à luz de vivências alheias,

Quando a efervescência das indecisões nos assolou o peito, como vulcão que desperta.

 

Cego, o retumbar anafilático ecoou, esfolando a permeabilidade das nossas almas,

Como um veneno que, injetado debaixo do tempo, decide eclodir, sem pedir licença.

Deixamos que a intumescência das nossas virtudes nos guiasse

E depressa o calor se transformou em suor ruborizado, e a noite fechou os olhos,

Numa exalação pacífica, descontraída, feliz como um peixe que volta ao mar,

E, pela alegria, se torna incauto, e se esquece que peixes maiores aguardam por o apanhar

 

O medo foi suprimido por uma ousadia animal, instintiva,

E, no fim, ficaram os destroços impudicos, escancarados à atmosfera denunciadora,

Era o arcabouço do espírito que, sem o saber, escrevia em páginas despidas,

Páginas cuja finidade ainda era discutida em conselho condómino, no rés-do-chão do coração.

 

Ou, pelo menos, era o que depreendíamos daquelas palpitações que pungiam no peito

Agarrei a carícia do medo, que era a bênção que nos fazia sorrir,

Reproduzíamos esgares, como crianças que ainda não descobriram que o céu é a alegria dos tolos

E, sozinhos com os espectros sinuosos e libertadores da noite, pousei-lhe a cabeça no peito nu

Os meus braços tornaram-se na evaporação do medo, que se tornou na nossa carícia,

E o mundo sumiu-se ao antro ingénuo e ogival que nos acolhia

Tópico: Era o medo o que nos vinha acariciar

resposta2

Data: 17-08-2015 | De: cdavidju@gmail.com

Nascimento para a Poesia.Leio e releio, sem achar monotonia nem fadiga.Apenas descoberta encantada. Alguns sorrisos...na "reuniao de condominos no res-do-chao"...

Re:resposta2

Data: 17-08-2015 | De: Elizabete Leonora

Grato pela partilha. Fico feliz por lhe provocar alguns sorrisos e encanto :)

Novo comentário