Nascimento para a Poesia.Leio e releio, sem achar monotonia nem fadiga.Apenas descoberta encantada. Alguns sorrisos...na "reuniao de condominos no res-do-chao"...
Era o medo o que nos vinha acariciar
Era o medo o que nos vinha acariciar
Tínhamos o incipiente nervosismo estancado na garganta da alma,
Espreitando com cautela pela fresta aberta, permeável à luz de vivências alheias,
Quando a efervescência das indecisões nos assolou o peito, como vulcão que desperta.
Cego, o retumbar anafilático ecoou, esfolando a permeabilidade das nossas almas,
Como um veneno que, injetado debaixo do tempo, decide eclodir, sem pedir licença.
Deixamos que a intumescência das nossas virtudes nos guiasse
E depressa o calor se transformou em suor ruborizado, e a noite fechou os olhos,
Numa exalação pacífica, descontraída, feliz como um peixe que volta ao mar,
E, pela alegria, se torna incauto, e se esquece que peixes maiores aguardam por o apanhar
O medo foi suprimido por uma ousadia animal, instintiva,
E, no fim, ficaram os destroços impudicos, escancarados à atmosfera denunciadora,
Era o arcabouço do espírito que, sem o saber, escrevia em páginas despidas,
Páginas cuja finidade ainda era discutida em conselho condómino, no rés-do-chão do coração.
Ou, pelo menos, era o que depreendíamos daquelas palpitações que pungiam no peito
Agarrei a carícia do medo, que era a bênção que nos fazia sorrir,
Reproduzíamos esgares, como crianças que ainda não descobriram que o céu é a alegria dos tolos
E, sozinhos com os espectros sinuosos e libertadores da noite, pousei-lhe a cabeça no peito nu
Os meus braços tornaram-se na evaporação do medo, que se tornou na nossa carícia,
E o mundo sumiu-se ao antro ingénuo e ogival que nos acolhia