E ninguém disse que a vida tem de libertar
Céu é a caneta de gel onde sufoco os meus traumas
Estrelas e planetas, matéria fosforescente e opaca, são gel e tinta –
Um composto metafísico que, pensando no princípio, na origem, pinta
Nódoas inveteradas, quadros, sobre mim, sobre o eu escondido na sombra, nas brumas
De um sol vadio, que nunca chega a apaziguar o mar,
De fímbria a fímbria, como se fosse um lençol a ondular,
Querendo trespassar a atmosfera e beijar os tentáculos majestosos
Do rei que as faz levitar,
E grito, gemo, rastejo, pedindo algo que não me pertence
E estridulo, clamo de joelhos vergados, deixando o semblante marejar,
Sinto a agonia de ter a vida corrida nos olhos
E não a poder controlar
Sinto a cruel sensação de efemeridade a estiolar-me, a varrer o brilho de viver
Sinto a ameaça do humano contra os mais fracos, tornando-me impotente,
Incapaz de me afirmar no seio desta multidão, invadida por desejos egoístas,
Invadida por tantas ambições estultas, sobejamente inócuas.
Ó, ó céu, ó estrelas, ó planetas, por favor, deem-me um lugar só meu
Um sítio sem espinhos venenosos, onde possa estender a minha bandeira e deixar-me ondular
Céu, beija-me a úlcera, que me infesta a alma, porque sou vida estulta e inócua,
E ninguém disse que a vida tem de libertar
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