E ninguém disse que a vida tem de libertar

23-06-2015 00:27

Céu é a caneta de gel onde sufoco os meus traumas

Estrelas e planetas, matéria fosforescente e opaca, são gel e tinta –

Um composto metafísico que, pensando no princípio, na origem, pinta

Nódoas inveteradas, quadros, sobre mim, sobre o eu escondido na sombra, nas brumas

De um sol vadio, que nunca chega a apaziguar o mar,

De fímbria a fímbria, como se fosse um lençol a ondular,

Querendo trespassar a atmosfera e beijar os tentáculos majestosos

Do rei que as faz levitar,

E grito, gemo, rastejo, pedindo algo que não me pertence

E estridulo, clamo de joelhos vergados, deixando o semblante marejar,

Sinto a agonia de ter a vida corrida nos olhos

E não a poder controlar

Sinto a cruel sensação de efemeridade a estiolar-me, a varrer o brilho de viver

Sinto a ameaça do humano contra os mais fracos, tornando-me impotente,

Incapaz de me afirmar no seio desta multidão, invadida por desejos egoístas,

Invadida por tantas ambições estultas, sobejamente inócuas.

Ó, ó céu, ó estrelas, ó planetas, por favor, deem-me um lugar só meu

Um sítio sem espinhos venenosos, onde possa estender a minha bandeira e deixar-me ondular

Céu, beija-me a úlcera, que me infesta a alma, porque sou vida estulta e inócua,

E ninguém disse que a vida tem de libertar

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