Confissão de Deus

01-06-2015 19:20

O horizonte, da poltrona onde me sento, é o meu paraíso epicurista

Lá, cintila a beática felicidade dos anjos alados,

Pois coexistem com a vida seguindo adágios moderados

Aqui, no paraíso, o meu cajado dourado asfixia o excesso antropocentrista

 

Aqueles que são pó da minha alma devem ser alvo de vassalagem

Afinal, esses foram criados à minha semelhança e imagem

Os restantes existentes naturais devem saciar-lhes as necessidades

Não fosse eu fornecer-lhes todas as alibilidades

 

Vivo na mansarda sideral do observatório sem cera

Daqui, vejo tudo, o bem e o mal

Só não supusera que a ingratidão se tornasse numa atuação tão real

Mas quem julgam ser para desfrutarem a vida sem espera

 

Sem aguardarem pelo prometido paraíso,

Que guardo como um pastor doma o rebanho,

Usam e abusam da adrenalina, da ironia, do prazer que amanho

Com as minhas mãos de justiceiro que já não aguentam mais riso

 

Sou a perfeição, mas, afinal, para que criei esta insubordinada seita

Não, confesso, sinto impotência, se a perfeição me chegasse, não os teria criado

Mas, se a perfeição me é insuficiente, a perfeição ser-me-á, por natureza, imperfeita

Afinal, sou eu quem urge afogar a solidão, sou eu quem está carenciado

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