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Música, dança para mim

26-06-2015 01:06
Música é calor enregelado, brotado pelas catacumbas da alma Eu sou aquele que finge tê-la pela falsa calma. Tudo em mim é floresta, floresta silente, assombrada Que, em cada frecha, pela densa neblina libertada, É alheia ao fogoso raio de luz, que se imiscui com timidez Pela mortandade, que me...

E ninguém disse que a vida tem de libertar

23-06-2015 00:27
Céu é a caneta de gel onde sufoco os meus traumas Estrelas e planetas, matéria fosforescente e opaca, são gel e tinta – Um composto metafísico que, pensando no princípio, na origem, pinta Nódoas inveteradas, quadros, sobre mim, sobre o eu escondido na sombra, nas brumas De um sol vadio, que nunca...

E nenhuma pele está impedida de voar

19-06-2015 22:16
No outro dia, abri a janela do quarto E o horizonte esvaziou-se-me, abruptamente, pela traqueia abaixo Esgueirei-me, como um símio de sangue quente, pelo parapeito da janela, debaixo De mim, estava o universo dos sonhos sem asas, um deserto de sonhos amputados ao parto, Logo à nascença, quando a...

Gasta-se o tempo e não a vida

11-06-2015 22:18
Lembro-me, pequeninamente, do extenso dia em que fomos livros abertos, As nossas esperanças enraizavam por cima da mesinha-de-cabeceira. Doida de felicidade, não havia sulco ou esteira Que me dilacerasse a alma, como quem rasga o ouro dos meus excertos,   Travados por farpas, os nossos aluados...

Confissão de Deus

01-06-2015 19:20
O horizonte, da poltrona onde me sento, é o meu paraíso epicurista Lá, cintila a beática felicidade dos anjos alados, Pois coexistem com a vida seguindo adágios moderados Aqui, no paraíso, o meu cajado dourado asfixia o excesso antropocentrista   Aqueles que são pó da minha alma devem ser alvo...

Poema ao filho

28-05-2015 23:16
Filho, os teus olhos são as fogueiras que se ateiam no meu céu opaco, À noite, quando o incêndio que cai sobre as minhas costas se apaga. Do meu rosto só jorram lágrimas, lágrimas de um martírio que nunca mais vê a dívida paga, Enfim, tudo em mim são carpidos, e os carpidos são as pedras que mutilo...

Quero o que não vem na pele

24-05-2015 12:14
Quero o que não vem na pele O que me vem na pele é crateras, viscosidades vis e candentes Vem-me poeiras, carquilhas, sulcos sórdidos e salientes Minha pele é a fotografia contínua do meu decrépito estado de alma E minha alma… ó minha alma, quem és tu, que me manténs refém, tão vivo, mas tão...
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