Este poema já tem uns bons anitos ;)
Caí ao mar
De barco vagueio sozinho
Perdido, ergo a fronte
E, na esperança de encontrar caminho,
Fito o horizonte
A armada foi destronada pelo sal
E os destroços o vento levou,
Corroída pelo mal,
À deriva o único sobrevivente ficou
Deixada ao relento, ao frio,
A madeira do porão vai chorando o vazio,
E vai, vai criando teias de aranha, horríveis à vista,
Que escondem cadáveres do sol trocista
Porque, quando a grande porta abri,
Ecos solitários de vidas, meras cinzas perdidas, senti
Passagens, mortas, de turbulentas memórias recordei
E, fora de tempo, o cru aperto da solidão enfrentei
Porque o sol
A minha pele deixou queimada
E agora não sou nada
Senão pele cicatrizada
Hoje, não conheço o tamanho dos meus cabelos
Os dedos já não sentem maldade,
Nem sangram mágoas de infelicidade
As olheiras são as memórias deixadas nas estrelas,
São as esperanças afligidas,
Todos os dias mal escondidas
Por não saber quem sou,
Abri o espírito no precipício da proa,
Recordando quem por outros mares passou
E para redescobrir que neles o tempo voa
De braços abertos submeti o olhar ao mar,
Ao fiel espelho que me havia de comunicar
A criatura que dentro de mim deixei viver,
O monstro que, ao longo da vida, tive de ser
Aí, no espelho da verdade, reparei,
Os meus cabelos não tinham fim
E a minha ominosa alma, carregada, desfazia-se como pó do marfim
Os músculos estavam dilatados,
Aguados,
E, ao fundo das minhas costas,
Reparei
Não havia ninguém para me amparar
Então, impotente, caí ao mar