Caí ao mar

30-09-2015 21:59

De barco vagueio sozinho

Perdido, ergo a fronte

E, na esperança de encontrar caminho,

Fito o horizonte

 

A armada foi destronada pelo sal

E os destroços o vento levou,

Corroída pelo mal,

À deriva o único sobrevivente ficou

 

Deixada ao relento, ao frio,

A madeira do porão vai chorando o vazio,

E vai, vai criando teias de aranha, horríveis à vista,

Que escondem cadáveres do sol trocista

 

Porque, quando a grande porta abri,

Ecos solitários de vidas, meras cinzas perdidas, senti

Passagens, mortas, de turbulentas memórias recordei

E, fora de tempo, o cru aperto da solidão enfrentei

 

Porque o sol

A minha pele deixou queimada

E agora não sou nada

Senão pele cicatrizada

 

Hoje, não conheço o tamanho dos meus cabelos

Os dedos já não sentem maldade,

Nem sangram mágoas de infelicidade

As olheiras são as memórias deixadas nas estrelas,

São as esperanças afligidas,

Todos os dias mal escondidas

 

Por não saber quem sou,

Abri o espírito no precipício da proa,

Recordando quem por outros mares passou

E para redescobrir que neles o tempo voa

 

De braços abertos submeti o olhar ao mar,

Ao fiel espelho que me havia de comunicar

A criatura que dentro de mim deixei viver,

O monstro que, ao longo da vida, tive de ser

 

Aí, no espelho da verdade, reparei,

Os meus cabelos não tinham fim

E a minha ominosa alma, carregada, desfazia-se como pó do marfim

Os músculos estavam dilatados,

Aguados,

E, ao fundo das minhas costas,

Reparei

Não havia ninguém para me amparar

Então, impotente, caí ao mar

Tópico: Caí ao mar

Caí ao mar

Data: 30-09-2015 | De: Elizabete Leonora

Este poema já tem uns bons anitos ;)

Lindo!

Data: 30-09-2015 | De: Cristina

E como sempre, lindo poema! :-)

Top!

Re:Lindo!

Data: 30-09-2015 | De: Elizabete Leonora

Grato pela cortesia!!! :)

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