A paixão desfaz-se como boroas
Por pessoas apaixonadas, os caminhos passam.
Julgando-se donas da felicidade, da verdadeira,
Estendem o mundo como uma passadeira,
E vão atribuindo nomes aos locais que os corações caçam
As pessoas, as apaixonadas, julgam em estado ébrio,
Bebendo de um licor vedado ao resto do mundo,
Bebendo de um poço que vai ficando sempre mais fundo,
E vão, apoiando-se só num ombro, sempre em desequilíbrio
Para as apaixonadas, o mundo que não lhes passa pelos dedos é errado
Saboreiam os beijos na secura dos lábios, um sonho recém-ateado,
Mesmo quando só o luar se faz acompanhar
Mesmo quando só o coração lhes pode cantar
Mas num dia, quiçá no seguinte, porque todos os dias são dias seguintes,
A sobriedade não lhes há de assolar o peito,
E, olhando para trás, estranhem os passos, afinal, sem jeito,
E num ápice, o mundo morto volte a acordar, um mundo de novos requintes
Os príncipes e princesas de ontem perdem as coroas
E, em vez de beijarem com o licor do coração,
Beijam com a porta da habituação,
Costumados a desperdiçar, a paixão desfaz-se como boroas
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